CAPITÃO
DE CASTELA
(Captain
from Castile)
1947 – EUA (145’) • Prod.
Fox (Lamar Trotti) • Dir. HENRY KING
• Rot. Lamar Trotti, baseado num
romance de Samuel Shellabarger • Fot.
Charles Clarke e Arthur E. Arling (Technicolor) • Mus. Alfred Newman • Com Tyrone Power (Pedro De Vargas), Jean
Peters (Catana Perez), Cesar Romero (Hernando Cortez), Lee J. Cobb (Juan
Garcia), John Sutton (Diego De Silva), Antonio Moreno (Don Francisco De
Vargas), Thomas Gomez (Pe. Bartolomeo Romero), Alan Mowbray (Prof. Botello),
Barbara Lawrence (Luisa De Caravajal).
Espanha,
1518. O pai e a mãe de Pedro De Vargas foram presos por Diego De Silva,
representante da Inquisição. Sua jovem irmã de doze anos foi torturada até a
morte. O próprio Pedro foi capturado. Ele escapa do cárcere ao matar num duelo
De Silva, responsável por todas as suas desventuras. Catana Perez, uma servente
de albergue apaixonada por ele, e um amigo, Juan Garcia, encarcerados nessa
prisão por terem permanecido ao lado de sua mãe, prisioneira da Inquisição, o
ajudaram em sua fuga. Eles igualmente favoreceram os pais de Pedro a fugir, os
quais encontrarão refúgio na Itália. Pedro, Garcia e Catana se juntam às
fileiras de Hernando Cortez e partem para o Novo Mundo. O embarque será no La
Havana. Uma vez no México, a armada de Cortez receberá muitas visitas de
embaixadores e presentes do imperador Montezuma, para que deixe o território.
Pedro contou sua história, e sobre o homicídio que cometeu, ao Padre Romero,
que acompanha os tripulantes. Este o faz jurar que rezará pela alma de De
Silva. Pedro, que aos poucos se torna mais sensível ao amor e à devoção de
Catana, quer casar-se com ela, malgrado o abismo que distancia suas posições
sociais. Ele frustra uma conspiração de ladrões que tentam roubar o tesouro de
Cortez. Durante este episódio, é ferido e o médico-astrólogo Botello
cauterizará com um ferro incandescente a ferida que ele tem no crânio,
assegurando assim sua salvação. A fim de remover definitivamente do espírito de
seus homens o desejo de retorno e mostrar a Montezuma sua determinação, Cortez
queima seus navios. De mesmo modo, ele combaterá as tropas enviadas pelo
governador de Cuba. Entre os oficiais que o ajudarão, está De Silva, que
sobreviveu ao duelo com Pedro. Ele pretende levar a inquisição às fileiras de
Cortez, que se opõe energicamente. Um índio, antigo escravo de De Silva, que
antes o havia perseguido, assassina-o numa noite, em sua tenda. Pedro, cujo
conflito com De Silva é bem conhecido, é preso pelo crime e será enforcado.
Catana o apunhala para poupá-lo desta desonra, logo antes de sua inocência ser
revelada. Pedro escapará da morte. A armada de Cortez parte a enfrentar Montezuma.
Catana segue a tropa, trazendo o filho que deu a Pedro.
A
elegância visual do filme, seu esplendor plástico, ajuda King a alcançar esta
altura de tom no romanesco que ele procura obstinadamente. Nem a truculência,
nem o pitoresco, nem as surpresas e as viradas do destino o interessam tanto
quanto isto. A noção de aventura (e nenhum filme é mais aventureiro que este) é
utilizada para colocar os personagens, e sobretudo o personagem central, em
face de sua verdade. Quando ele se junta à tropa de Cortez, havia perdido tudo,
exceto o essencial, que a ele será revelado nos estranhos décors do Novo Mundo
(filmados realmente no México). Do seu catolicismo, ele experimentará a mais
difícil virtude: a do perdão, aplicada aqui ao seu pior inimigo. Consequência de seu respeito pelos seres
(sejam de outra raça ou de outra classe social que não a sua), virá a ele como
um presente do céu este amor de uma serva, a qual ele amais um dia pensou em
tomar como esposa. Os paroxismos de sua vida, sejam de amor, de ódio ou de
desespero, são tratados por King de forma bastante reservada, a mesma que torna
seus filmes incomparáveis àqueles dos cineastas de sua geração (Walsh, Dwan ou
Ford). O espetacular emana sempre de um relato fundamentalmente e
voluntariamente austero. A emoção permanece como que escondida, protegida por
uma aparente impassibilidade. O autor odiaria impor esta emoção pelo recurso ao
patético ou pela identificação do espectador com os personagens. Assim, a
emocionante cena em que Catana apunhala Pedro para livrá-lo da desonra de uma
execução, gesto que evoca tantas linhas complexas que conectam os dois
personagens, é tratada com a mesma frieza “plástica” que uma cena de ação e de
movimento, como aquela perseguição a cavalo na noite – fabulosamente bela –
quando Pedro deseja ajudar seus pais a fugirem da Itália.
(Jacques Lourcelles, em Dictionnaire du Cinéma – Les Films;
Tradução: Yuri Ramos; Publicado originalmente na folha da sessão do filme pelo
Cineclube Golden Swallow)
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