sexta-feira, 20 de abril de 2018

Capitão de Castela, por Jacques Loucelles




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CAPITÃO DE CASTELA
(Captain from Castile)



            1947 – EUA (145’) • Prod. Fox (Lamar Trotti) • Dir. HENRY KING • Rot. Lamar Trotti, baseado num romance de Samuel Shellabarger • Fot. Charles Clarke e Arthur E. Arling (Technicolor) • Mus. Alfred Newman • Com Tyrone Power (Pedro De Vargas), Jean Peters (Catana Perez), Cesar Romero (Hernando Cortez), Lee J. Cobb (Juan Garcia), John Sutton (Diego De Silva), Antonio Moreno (Don Francisco De Vargas), Thomas Gomez (Pe. Bartolomeo Romero), Alan Mowbray (Prof. Botello), Barbara Lawrence (Luisa De Caravajal).

Espanha, 1518. O pai e a mãe de Pedro De Vargas foram presos por Diego De Silva, representante da Inquisição. Sua jovem irmã de doze anos foi torturada até a morte. O próprio Pedro foi capturado. Ele escapa do cárcere ao matar num duelo De Silva, responsável por todas as suas desventuras. Catana Perez, uma servente de albergue apaixonada por ele, e um amigo, Juan Garcia, encarcerados nessa prisão por terem permanecido ao lado de sua mãe, prisioneira da Inquisição, o ajudaram em sua fuga. Eles igualmente favoreceram os pais de Pedro a fugir, os quais encontrarão refúgio na Itália. Pedro, Garcia e Catana se juntam às fileiras de Hernando Cortez e partem para o Novo Mundo. O embarque será no La Havana. Uma vez no México, a armada de Cortez receberá muitas visitas de embaixadores e presentes do imperador Montezuma, para que deixe o território. Pedro contou sua história, e sobre o homicídio que cometeu, ao Padre Romero, que acompanha os tripulantes. Este o faz jurar que rezará pela alma de De Silva. Pedro, que aos poucos se torna mais sensível ao amor e à devoção de Catana, quer casar-se com ela, malgrado o abismo que distancia suas posições sociais. Ele frustra uma conspiração de ladrões que tentam roubar o tesouro de Cortez. Durante este episódio, é ferido e o médico-astrólogo Botello cauterizará com um ferro incandescente a ferida que ele tem no crânio, assegurando assim sua salvação. A fim de remover definitivamente do espírito de seus homens o desejo de retorno e mostrar a Montezuma sua determinação, Cortez queima seus navios. De mesmo modo, ele combaterá as tropas enviadas pelo governador de Cuba. Entre os oficiais que o ajudarão, está De Silva, que sobreviveu ao duelo com Pedro. Ele pretende levar a inquisição às fileiras de Cortez, que se opõe energicamente. Um índio, antigo escravo de De Silva, que antes o havia perseguido, assassina-o numa noite, em sua tenda. Pedro, cujo conflito com De Silva é bem conhecido, é preso pelo crime e será enforcado. Catana o apunhala para poupá-lo desta desonra, logo antes de sua inocência ser revelada. Pedro escapará da morte. A armada de Cortez parte a enfrentar Montezuma. Catana segue a tropa, trazendo o filho que deu a Pedro.

A elegância visual do filme, seu esplendor plástico, ajuda King a alcançar esta altura de tom no romanesco que ele procura obstinadamente. Nem a truculência, nem o pitoresco, nem as surpresas e as viradas do destino o interessam tanto quanto isto. A noção de aventura (e nenhum filme é mais aventureiro que este) é utilizada para colocar os personagens, e sobretudo o personagem central, em face de sua verdade. Quando ele se junta à tropa de Cortez, havia perdido tudo, exceto o essencial, que a ele será revelado nos estranhos décors do Novo Mundo (filmados realmente no México). Do seu catolicismo, ele experimentará a mais difícil virtude: a do perdão, aplicada aqui ao seu pior inimigo.  Consequência de seu respeito pelos seres (sejam de outra raça ou de outra classe social que não a sua), virá a ele como um presente do céu este amor de uma serva, a qual ele amais um dia pensou em tomar como esposa. Os paroxismos de sua vida, sejam de amor, de ódio ou de desespero, são tratados por King de forma bastante reservada, a mesma que torna seus filmes incomparáveis àqueles dos cineastas de sua geração (Walsh, Dwan ou Ford). O espetacular emana sempre de um relato fundamentalmente e voluntariamente austero. A emoção permanece como que escondida, protegida por uma aparente impassibilidade. O autor odiaria impor esta emoção pelo recurso ao patético ou pela identificação do espectador com os personagens. Assim, a emocionante cena em que Catana apunhala Pedro para livrá-lo da desonra de uma execução, gesto que evoca tantas linhas complexas que conectam os dois personagens, é tratada com a mesma frieza “plástica” que uma cena de ação e de movimento, como aquela perseguição a cavalo na noite – fabulosamente bela – quando Pedro deseja ajudar seus pais a fugirem da Itália.




(Jacques Lourcelles, em Dictionnaire du Cinéma – Les Films; Tradução: Yuri Ramos; Publicado originalmente na folha da sessão do filme pelo Cineclube Golden Swallow)

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