As
Aventuras de Hajji Baba (1954)
É uma profusão contínua
de acontecimentos e, por isso, não poderia chamar-se menos que um filme de
aventura. No caso, As Aventuras de Hajji Baba.
Um filme com uma imensa
força juvenil, força de paixão: uma jovem princesa que se faz plebeia para
cumprir mais um de seus inúmeros caprichos; um jovem barbeiro e plebeu que tem
ambições de se fazer príncipe. E, é claro, o destino, co-protagonista, que une
e modela o caminho dos dois no enfrentamento das intempéries do mundo.
Ambos, se caminham, têm
seus motivos diversos, mas ambos caminham por paixão e sem medo: a princesa, em
prol de encontrar o homem que escolheu para desposá-la; o barbeiro, em direção
aos sonhos de riqueza e majestade. Mas tudo parece (a realidade e o destino
parecem) digladiar-se a todo tempo contra os dois, nos seus sonhos juvenis que,
por um bem-vindo acaso, se cruzaram. É um filme onde nada permanece parado
(como disse antes: uma profusão contínua de acontecimentos): quando pensamos
que um problema foi solucionado, nada se resolveu, ou quando uma aventura
realmente termina, logo surge outra. É neste ponto que a própria estrutura
lógica do filme se funde e, mais propriamente, materializa os próprios
sentimentos de seus protagonistas: a ebulição de paixões, a busca contínua pela
superação de obstáculos e, portanto, o enfrentamento contínuo dos percalços do
mundo (o que é, sem dúvidas, o meio pelo qual alcança-se a maturidade), tudo
isto nos é apresentado num filme de uma decupagem espantosamente ágil e por
meio de histórias sempre cativantes. E se tudo isto não bastasse, é também
espantoso que um filme sobre as tantas duras penas do amadurecimento seja, no
entanto, um filme absurdamente leve e muitas vezes bem-humorado, sem que se
desvie um milímetro de toda a nobreza daquilo que vêm nos ensinar.
Por essas e por outras
razões, As Aventuras de Hajji Baba não é, senão, um filme jovem, tanto na sua
utilização dos artifícios cinematográficos, como nos sentimentos de seus
protagonistas. Mas é também um filme sobre a fé e sobre a graça: a fé daqueles
que caminham indomáveis em busca de seus sonhos; a graça que faz, ao toque
divino, o destino conduzir a todos nos seus caminhos, mesmo que, algumas vezes,
isto seja um pouco amargo.
Por ser um filme de
batalhas e de enfrentamentos, é também um filme de guerra e de paz: da guerra
da inconstância adolescente do eu consigo mesmo, da guerra dos sexos, em que os
belicismos surgem da imaturidade em não conhecer o mistério que há no outro; da
paz, porque só se encontra o repouso da batalha vencida, a batalha em prol da
maturidade, quando nos conhecemos a nós e aos outros, depois de tanto nos
termos desnudado diante do mundo e dos seus flagelos. E é a partir daí que
abre-se a porta para um sentimento nobilíssimo, que só surge verdadeiramente entre
o homem e a mulher depois de tudo isto: o amor, que é também uma forma de paz,
onde repousam as nossas aventuras todas e onde terminam as de Hajji Baba que,
no fundo, são as aventuras de todos nós.
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