quarta-feira, 5 de abril de 2017

As Aventuras de Hajji Baba (1954)






As Aventuras de Hajji Baba (1954)




É uma profusão contínua de acontecimentos e, por isso, não poderia chamar-se menos que um filme de aventura. No caso, As Aventuras de Hajji Baba.

Um filme com uma imensa força juvenil, força de paixão: uma jovem princesa que se faz plebeia para cumprir mais um de seus inúmeros caprichos; um jovem barbeiro e plebeu que tem ambições de se fazer príncipe. E, é claro, o destino, co-protagonista, que une e modela o caminho dos dois no enfrentamento das intempéries do mundo.

Ambos, se caminham, têm seus motivos diversos, mas ambos caminham por paixão e sem medo: a princesa, em prol de encontrar o homem que escolheu para desposá-la; o barbeiro, em direção aos sonhos de riqueza e majestade. Mas tudo parece (a realidade e o destino parecem) digladiar-se a todo tempo contra os dois, nos seus sonhos juvenis que, por um bem-vindo acaso, se cruzaram. É um filme onde nada permanece parado (como disse antes: uma profusão contínua de acontecimentos): quando pensamos que um problema foi solucionado, nada se resolveu, ou quando uma aventura realmente termina, logo surge outra. É neste ponto que a própria estrutura lógica do filme se funde e, mais propriamente, materializa os próprios sentimentos de seus protagonistas: a ebulição de paixões, a busca contínua pela superação de obstáculos e, portanto, o enfrentamento contínuo dos percalços do mundo (o que é, sem dúvidas, o meio pelo qual alcança-se a maturidade), tudo isto nos é apresentado num filme de uma decupagem espantosamente ágil e por meio de histórias sempre cativantes. E se tudo isto não bastasse, é também espantoso que um filme sobre as tantas duras penas do amadurecimento seja, no entanto, um filme absurdamente leve e muitas vezes bem-humorado, sem que se desvie um milímetro de toda a nobreza daquilo que vêm nos ensinar.

Por essas e por outras razões, As Aventuras de Hajji Baba não é, senão, um filme jovem, tanto na sua utilização dos artifícios cinematográficos, como nos sentimentos de seus protagonistas. Mas é também um filme sobre a fé e sobre a graça: a fé daqueles que caminham indomáveis em busca de seus sonhos; a graça que faz, ao toque divino, o destino conduzir a todos nos seus caminhos, mesmo que, algumas vezes, isto seja um pouco amargo.

Por ser um filme de batalhas e de enfrentamentos, é também um filme de guerra e de paz: da guerra da inconstância adolescente do eu consigo mesmo, da guerra dos sexos, em que os belicismos surgem da imaturidade em não conhecer o mistério que há no outro; da paz, porque só se encontra o repouso da batalha vencida, a batalha em prol da maturidade, quando nos conhecemos a nós e aos outros, depois de tanto nos termos desnudado diante do mundo e dos seus flagelos. E é a partir daí que abre-se a porta para um sentimento nobilíssimo, que só surge verdadeiramente entre o homem e a mulher depois de tudo isto: o amor, que é também uma forma de paz, onde repousam as nossas aventuras todas e onde terminam as de Hajji Baba que, no fundo, são as aventuras de todos nós.



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