quinta-feira, 10 de maio de 2018

Chang Cheh – Realizador, por Chang Cheh



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Chang Cheh – Realizador, por Chang Cheh



Vivemos numa sociedade muito deprimida, numa época muito deprimida, e os filmes de violência condizem com esta época, com esta sociedade. Sentimo-nos inseguros, sem esperança, e a exibição de força que existe nesses filmes como que nos dá segurança, esperança. Direi, em definitivo, que o público, agora, prefere a violência ao sexo: sobretudo no cinema estamos fartos de ver gente a fazer amor, mulheres nuas, homens despidos, casais na cama, beijos de todas as maneiras e feitios. Mas há outra coisa também. O fato de todo aquele que não está no Poder odiar o Poder e tender a rebelar-se contra ele. Não o alcança, nem pelas vias legais, e enfurece-se. Julgo ser o único realizador chinês que usa a palavra violência e não a palavra ação. Mas definir estes filmes como filmes de ação é ridículo. É desonesto. É preciso não ter medo de usar a palavra violência: em chinês, pao-li. Eu não tenho medo. Também sou jornalista e escritor, tenho uma coluna semanal num jornal de Hong Kong.

No Ocidente vocês não precisam: vivem bem, por mais que os vossos filhos digam que não. Nadam em comodidade, em liberdade, em esperança. Mas aqui o "establishment" não faz outra coisa senão oprimir, extorquir dinheiro, explorar. Bem, reparo que estou a fazer um raciocínio político. O fato é que há uns vinte anos atrás estava bastante envolvido na política: talvez estes filmes sejam o resultado das minhas desilusões em política. Insisto muito em mim porque me considero o principal responsável pelo fenômeno que se está analisando. Sou o realizador de Tiger Boy, o filme que abriu o caminho para todos os outros. Fui eu que escrevi o argumento e depois convenci Run Run Shaw a produzir o filme, e depois os outros filmes que se lhe seguiram. E, no entanto, detesto-o, odeio-o. A mim agradam-me os filmes românticos: baseados em histórias delicadas, em personagens doces. Adoro O Mensageiro, de Losey, o Romeu e Julieta de Zeffirelli. Gostaria que a vida fosse um sonho sem sexo, sem violência, sem sangue.


(Publicado originalmente em Cinéfilo, 20 de dezembro de 1973, nº 12, pp. 22-23)

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