Chang Cheh – Realizador, por Chang
Cheh
Vivemos
numa sociedade muito deprimida, numa época muito deprimida, e os filmes de
violência condizem com esta época, com esta sociedade. Sentimo-nos inseguros,
sem esperança, e a exibição de força que existe nesses filmes como que nos dá
segurança, esperança. Direi, em definitivo, que o público, agora, prefere a
violência ao sexo: sobretudo no cinema estamos fartos de ver gente a fazer
amor, mulheres nuas, homens despidos, casais na cama, beijos de todas as
maneiras e feitios. Mas há outra coisa também. O fato de todo aquele que não
está no Poder odiar o Poder e tender a rebelar-se contra ele. Não o alcança,
nem pelas vias legais, e enfurece-se. Julgo ser o único realizador chinês que
usa a palavra violência e não a palavra ação. Mas definir estes filmes como
filmes de ação é ridículo. É desonesto. É preciso não ter medo de usar a
palavra violência: em chinês, pao-li. Eu não tenho medo. Também sou jornalista
e escritor, tenho uma coluna semanal num jornal de Hong Kong.
No
Ocidente vocês não precisam: vivem bem, por mais que os vossos filhos digam que
não. Nadam em comodidade, em liberdade, em esperança. Mas aqui o
"establishment" não faz outra coisa senão oprimir, extorquir
dinheiro, explorar. Bem, reparo que estou a fazer um raciocínio político. O
fato é que há uns vinte anos atrás estava bastante envolvido na política:
talvez estes filmes sejam o resultado das minhas desilusões em política.
Insisto muito em mim porque me considero o principal responsável pelo fenômeno
que se está analisando. Sou o realizador de Tiger Boy, o filme que abriu o
caminho para todos os outros. Fui eu que escrevi o argumento e depois convenci
Run Run Shaw a produzir o filme, e depois os outros filmes que se lhe seguiram.
E, no entanto, detesto-o, odeio-o. A mim agradam-me os filmes românticos:
baseados em histórias delicadas, em personagens doces. Adoro O Mensageiro, de
Losey, o Romeu e Julieta de Zeffirelli. Gostaria que a vida fosse um sonho sem
sexo, sem violência, sem sangue.
(Publicado originalmente
em Cinéfilo, 20 de dezembro de 1973, nº 12, pp. 22-23)
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