sexta-feira, 12 de abril de 2019

O Morro dos Maus Espíritos - Entrevista com Henry Hathaway




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Polly Platt: Agora estamos em The Shepherd of the Hills, de 1941. Ele me lembra The Trail of the Lonesome Pine.

Henry Hathaway: Ele foi feito no mesmo lugar do Trail of the Lonesome Pine; em Big Bear Lake. E foram feitos no mesmo período, ambos estão envoltos pela Montanha, então eles têm o mesmo “sabor”.

PP: Tudo era cinza. E tênue, exatamente como você fez em Trail of the Lonesome Pine. Betty Field está vestindo o mesmo vestido que Sylvia Sidney, e eu notei que John Wayne fala com o túmulo de sua mãe neste filme, antecedendo uma cena parecida em She Wore a Yellow Ribbon. Eu acho que Ford pegou essa ideia de você.

HH: Muitas coisas foram copiadas desse filme. Eu vi duas coisas em Shane que foram copiadas desse filme. A velha mulher sentada na cadeira de balanço no sepultamento, lembra disso? Eu filmei a velha Marjorie Main próxima a um penhasco na cadeira de balanço, no momento em que tiram suas ataduras para descobrir se ela voltará a enxergar.

Uma coisa engraçada sobre Wayne: Wayne é mais específico sobre as calças que ele usa do que sobre qualquer coisa no mundo, isso porque ele tem quadris enormes. Ele é muito “ossudo”... isso o deixa louco. E eu disse “Você deve usar calças feitas sob medida, não pode usar algodão gabardine, pelo amor de Deus, ou popeline ou alguma coisa. Você deve vestir algo sob medida”. Então fizemos as calças sob medida, e tivemos problemas com elas.
Nessa época, no meu escritório, eu tinha fotos penduradas nas paredes de cada filme que eu havia feito. Posteriormente, quando me mudei para meu rancho em Rogue River, eu chamei esse conjunto de fotos de “a galeria de Rogue”. Eu tinha uma foto com Betty Field inclinando-se contra uma árvore – um desses grandes e lindos pinheiros – de Shepherd of the Hills e de John Wayne com calças caseiras. Ele veio ao meu escritório. Eu tinha voltado à Paramount recentemente para fazer The Sons of Katie Elder (1965), e tinha as fotos nas paredes; olhou para elas e disse “você se lembra dessas malditas calças?!” (risos)


(...)


HH: Vou lhe contar uma história sobre Shepherd of the Hills e acho que essa é uma história memorável. A razão de eu ter saído da Paramount foi por conta desse filme. Foi meio longo - 12000 pés. São duas horas. Nós o exibimos em San Bernardino, que é uma espécie de vizinhança rude, numa sexta à noite, com um monte de crianças e outras pessoas. As crianças da escola saíam sexta à noite. Nós propositalmente fizemos a sessão neste horário e para aquele público específico da cidade. Nem uma alma sequer deixou o cinema. Oitenta porcento dos presentes disseram que era maravilhoso. E nenhum deles – e eles eram cerca de quatrocentos, o que foi extraordinário – disse que era muito longo. Nenhum. Nós voltamos para o estúdio absolutamente encantados. Foi um filme extremamente longo. Então nós cortamos algumas coisas e o levamos para Pasadena em uma quinta à noite. Você escolhe diferentes noites porque você pega diferentes tipos de público. E na quinta... nós pegamos um outro tipo de público. O filme, eu acho, tinha cerca de 11.800 pés ou alguma coisa assim. Cerca de 110 minutos. Oito ou dez pessoas levantaram-se e saíram do cinema e cerca de cinco por cento dos cartões diziam que era longo demais.


(...)


PP: É um bom filme. Muitos dizem que Shepherd of the Hills é o melhor de seus filmes, mas eu certamente acho que Trail of the Lonesome Pine é melhor. 

HH: É um filme muito melhor, de fato. Eu vou te dizer, nós tivemos muitos problemas com Shepherd por conta de Jack Moss, que é um homem muito, muito estranho.

PP: Que era gerente de negócios de Gary Copper.

HH: E meu. Era empresário de apenas duas pessoas.

PP: Depois de você começar a dirigir Gary Copper, ele lhe perguntou...?

HH: Sim. Nunca tirou um centavo de mim... Nós éramos bons amigos, amigos maravilhosos, e ele realmente adorava fazer coisas para as pessoas. Eu tinha Jack Moss como produtor em Shepherd of the Hills, e ele tinha um roteirista preferido, que queria refazer algumas coisas que Grover Jones havia feito, e esse foi o primeiro momento em que começamos a discutir. Então ele se casou com essa... garota que atuou em alguns papéis da Paramount e que era como um problema duplo. Ele estava tendo problemas com ela – ela sumia e outras coisas – . ele não sabia onde diabos ela estava. E coisas que eram para supostamente estarem feitas nunca estavam, e muitas delas eu tive que fazer.


(Henry Hathaway, em entrevista a Polly Platt; Henry Hathaway – A Directors Guild of America Oral History; Filmmakers Series, No. 84; Lanham, Maryland, e Londres: The Scarecrow Press, Ine. 2001. pp. 173-176; Tradução: Beatriz Saar)

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