Henry Hathaway nasceu em 13 de
março de 1898, em Sacramento, Califórnia, mas sua família mudou-se quase
imediatamente após seu nascimento para São Francisco; sua mãe Jean foi uma
atriz de teatro, e seu pai Rhoady um gerente de teatro, de modo que o menino
cresceu no mundo do show business.
Por direito, ele é o Marquês
Henri Leopold de Fiennes. O título é herdado de seu avô, que foi comissionado
pelo Rei dos Belgas para adquirir as Ilhas Sandwich (no Havaí) para o seu país.
Falhando neste intento e com vergonha de voltar para casa, ele viajou para São
Francisco, onde se estabeleceu como advogado em 1850. Logo depois, se casou, e
sua esposa lhe deu um filho, Rhoady, que cresceu para se tornar um gerente
teatral. Rhoady levou o nome de solteira de sua esposa, Hathaway, e permitiu
que ela trilhasse carreira como atriz de teatro, tendo seu filho Henry sendo
nascido durante uma turnê em Sacramento. Os contatos familiares levaram-no a
tornar-se um ator mirim numa companhia cinematográfica americana em 1908, onde
se tornou um protegido do diretor Allan Dwan. Dwan, de 23 anos de idade, tinha
entrado na indústria escrevendo e vendendo um roteiro para Essanay, depois
disso mudando para a American Film Company como roteirista, editor de roteiros
e diretor em seu estúdio em San Diego. Excepcionalmente prolífico em sua
produção, Dwan fez mais de quatrocentos filmes de uma e duas bobinas para a
Companhia no período de 1908 a 1912. Filmando ao longo da fronteira mexicana
com uma companhia de atores, incluindo J. Warren Kerrigan e Wallace Reid,
dirigiu um filme por dia, cinco dias por semana. Assim, como um ator infantil,
Hathaway primeiro experienciou um pouco da cultura do Oeste Americano, que
desenvolveria como um de seus maiores temas em filmes futuros, já como
realizador. Infelizmente, devido à ausência de créditos detalhados para filmes
desta década, não é possível nomear qualquer aparição de Hathaway, embora pelo
menos 239 dos 400 títulos ímpares sejam conhecidos. Em 1912, Hathaway se mudou
para o lado de trás das câmeras, como aderecista na Universal, deixando os
estudos de lado. Em 1917, também promove sua carreira como ator, desempenhando
pepéis em seriados juvenis.
A
entrada da América na Primeira Guerra Mundial pôs fim às suas ambições, se
tornando um instrutor de artilharia em Fort Wingfield School, São Francisco,
durante a guerra. Volta, no entanto, para Hollywood em 1921, como aderecista do
produtor/diretor Frank Lloyd, tendo falhado numa tentativa de deixar sua marca
no mundo das altas finanças com a Morris Audit Company, para quem trabalhou
imediatamente após a sua demissão do exército em 1919. Lloyd fez sua reputação
por adaptações consistentemente bem sucedidas de clássicos literários, como A
Tale of Two Cities (1917), e algumas de suas ocupações nas produções foram
transferidas para Hathaway. Isto foi nutrido e floresceu sob a inspiração de
Paul Bern, para quem Hathaway funcionava como diretor assistente. Bern o
encorajou a ler amplamente, para completar sua educação, assim como incentivou
a paixão de Hathaway por viajar, impelido-o a ir para a Índia, onde passou nove
meses coletando material para um documentário sobre peregrinações. O projeto
acabou por não se concretizar, mas a experiência influenciaria seu futuro
filme, The Life of a Bengal Lancer (1935), que foi seu primeiro sucesso popular
como diretor.
Na sua capacidade de assistente
de direção, Hathaway também trabalhou brevemente para Sam Goldwyn antes de se
mudar para a Paramount, onde atuou em estreita associação com Josef von
Sternberg e Victor Fleming. A última destas sociedades foi particularmente
frutífera, como ele lembrou em uma entrevista recente: "Fleming nunca teve
uma conferência sem mim, nunca fui ao escritório da frente sem mim, nunca fez
um casting sem mim, não porque ele precisava fazer isso, mas para que eu
pudesse aprender. Fleming não era um homem de brincadeiras ... ele era muito
sério, exigente e muito positivo no que queria, e a maior parte dos principais
homens com quem lidou acabaram moldados por seu comportamento; ele era um homem
muito duro. Acho que havia mais de Fleming em Gable, no fim de tudo, do que
havia do próprio Gable em si mesmo. Acho que Gable realmente imitou Victor
Fleming e se tornou esse tipo de homem na tela”.
"Com Fleming eu fiz The
Virginian. Eu fiz todos aqueles faroestes primitivos, todos os Zane Grays, os
que eu fiz de novo. Aprendi
principalmente, deles, como lidar com pessoas. Eu levava um roteiro para casa e
pensava sobre ele. O que eu diria a essas pessoas para fazerem em cena, como eu
começaria, onde seria o clímax, o que eu conseguiria com isso, como me livrar
das pessoas ocupando a cena, onde eu faria isso - na frente do fogo ou no sofá
-, o que eu faria? Tudo isso era inventado na minha mente, mas depois via o que
faziam de verdade. Totalmente diferente! Mas você aprende..." ("
Focus on Film" No. 7, 1971). A influência de Fleming é particularmente
notável em várias áreas do trabalho de Hathaway; em primeiro lugar, na
consistência das performances em todos seus filmes e, em segundo lugar, na
composição das imagens. Sua tela raramente está vazia, mas por outro lado nunca
está superlotada de modo que há pouca tentativa de agredir o público em um
nível visual, a menos que a imagem seja concebida como um corte chocante ou
zoom que se justifica no seu contexto. Ao mesmo tempo, a atenção aos detalhes
dentro do quadro é relevante para a caracterização e para o desenvolvimento narrativo.
Por exemplo, em 1927, Hathaway trabalhou como assistente de Fleming em Mantrap,
um drama romântico ao ar livre estrelado Ernest Torrence, Clara Bow e Percy
Marmont, adaptados de um romance de Sinclair Lewis. A história se passsa em uma
comunidade nas montanhas rochosas canadenses durante os primeiros anos do
século XX. Um velho lojista (Torrence) tira o avental e desce para Minneapolis
pela primeira vez desde 1903 ao ouvir que "tornozelos não é a metade do
que as garotas estão mostrando agora ". Ele compra uma esposa (Bow), que
acha a vida nas selvas insuportável e foge com um caçador jovem e bonito
(Marmont). Nove anos depois de Mantrap, Hathaway dirigiu The Trail of the
Lonesome Pine; foi seu segundo grande trabalho, e o primeiro orçamento 'A' do faroeste
para três processos de coloração. Como tal, faz certas concessões em termos de
imagens filmadas apenas para efeitos de cor, mas um exame atento à cena de
abertura e ao conteúdo do esboço da trama contêm ambos a influência de Fleming
e indicações do desenvolvimento posterior de Hathaway. O enredo se situa em uma
comunidade de cabanas de madeira, onde velhos bosques, velhos costumes e
códigos antigos vivem inalterados. "A introdução classifica os habitantes
como pessoas cujo ódio e cuja propriedade eram o
seu patriotismo, e para os quais os costumes pitorescos eram religião. O
prólogo, definido no início do século XX, abre com a câmera panorâmica através
de um vale azul da montanha, no enfoque de figuras nas rochas disparando em uma
cabana de madeira. Cortando para os ocupantes, estabelece que o pai e dois
filhos estão presos sob o fogo em um banheiro externo, enquanto a esposa
grávida está prestes a dar à luz dentro de casa. O filho mais velho detém o
pai, enquanto este tenta quebrar um cobertura que o impede de sair e correr
para a casa, mas sua preocupação é desviada quando o filho mais jovem se
machuca após desferir um tiro contra aqueles que os atacam. Ele fica ileso,
apenas é lançado para trás pelo impacto de sua arma de fogo. Os gritos de um
bebê confirmam que a mãe e o filho estão vivos. Hathaway corta para o interior
da cabana, onde a mãe (Beulah Bondi) embala o bebê recém-nascido, uma menina,
em seus braços, orando: "Dê-lhe forças para ser boa, Senhor, mas não a
deixe carregar o fardo do medo. Oh, o assassinato, o assassinato! Por que isso
tem que ser? "; e a imagem se transfere para o plano da queda de um único
pinheiro, num vale. Sobreposto, vem o dizer: "Hoje". O enredo gira em
torno de problemas com a propriedade da família, que são finalmente resolvidos
através da intervenção de um jovem engenheiro de minas (Fred MacMurray), que se
apaixona pela garota que lá habita (Sylvia Sidney). Ela está tão infeliz com
seu ambiente como a personagem Clara Bow em Mantrap, e anseia por escapar para
o excitação da vida da cidade. Assim, o filme se encaixa tanto na categoria
"folclórico-mitológica" quanto na do western; outros filmes de
Hathaway nessa tradição são Go West Young Man (1936) com a estrela de cinema
Mae West fazendo uma parada imprevista numa cidade caipira; The Sheperd of the
Hills (1941) que tem a reputação de ser o melhor dos filmes "de
montanha", e que foi o primeiro filme de Hathaway com John Wayne, e Home
in Indiana ( 1944 ) , um drama passado numa cidade pequena, cobre amores de juventude
e corridas de arnês. A carreira de Hathaway inclui diversos dos gêneros
populares no cinema de Hollywood, entre os quais o faroeste (seus oito
primeiros filmes, muitos dos quais estrelados por Randolph Scott e baseados nos
contos de Zane Grey) —Rawhide, Garden of Evil, From Hell to Texas/ Manhunt,
North to Alaska, episódios
de How the West Was Won, The Sons of Katie Elder, Nevada Smith, Five Card Stud,
True Grit, e Shootout; Filmes de gângster ou de crime —Johnny Apollo, The Dark
Corner, Kiss of Death, Call Northside 777, e Seven Thieves. Seus melodramas
incluem Peter Ibbetson, Now and Forever, 14 Hours, Niagara, The Racers/ Such
Men Are Dangerous, The Bottom of the Bottle/ Beyond the River, 23 Paces to
Baker Street, Woman Obsessed, e Circus World/ The Magnificent Showman (também
romântico e passado numa companhia de circo com temas de faroeste); suas
comédias consistem em The Witching Hour, Go West Young Man, You're in the Navy
Now/ U.S.S. Tea Kettle, and North to Alaska. War/ service films include Come On
Marines, The Lives of a Bengal Lancer, The Real Glory, Sundown, Ten Gentlemen
from West Point, Wing and a Prayer, Youre in the Navy Now/ U.S.S. Tea Kettle,
The Desert Fox/Rommel—Desert Fox, e Raid on Rommel; Ainda realizou filmes de
espião, como 13 Rue Madeleine and Diplomatic Courier assim como dramas
aventureiros como China Girl, Down to the Sea in Ships, Prince Valiant, Legend
of the Lost, e The Last Safari.
(Kingsley
Canham, em The Hollywood Prefessional – Volume One – Michael Curtiz, Raoul
Walsh, Henry Hathaway; Nova Iorque: A. S. Barnes & Co.; 1973; pp. 139-145;
Tradução: Yuri Ramos)
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