A premissa era bastante interessante: como sempre ocorre
nas histórias de Godzilla, um mundo desigual e de conflitos ambientais precisa
receber uma lição dos velhos titãs para que possa seguir em frente. Desta vez,
um grupo resolve ressuscitar uma série de monstros míticos para cumprir este
trabalho e a narrativa toma forma como uma grande homenagem cinéfila aos
inesquecíveis personagens da Toho: ganha vida o Rei Ghidorah, que será
combatido, como de costume, pelo herói Godzilla. Ressuscitam, de mesmo modo,
Rodan e Mothra, outros dos seres lendários do imaginário daikaiju.
A execução, no entanto, é muito precária em certos
pontos: um filme que parece duvidar da inteligência dos espectadores,
recorrendo a pleonasmos frequentes (a imagem do “monstro 0” é vista; logo um
personagem diz, em alto e bom som: “monstro 0”!!!); o tema do drama familiar
envolvido na trama parece pouco trabalhado, apesar de recorrente.
A ausência de complexidade nas figuras constituídas pelo
enredo são, desta forma, uma espécie de auto-sabotagem: um filme de ícones, um
filme de deuses, que se explica demais e retira o ar mistérico destes
elementos, diminui sua divindade. Talvez fosse necessário algo mais simplório:
bastavam as batalhas internas advindas do renascimento de Godzilla, Ghidorah e
seus asseclas. Só a ressurreição deles já seria a glória do filme. Eles falam
por si mesmos e não precisam de intérpretes.
Ainda assim, permanecem coisas belas: o renascimento de
Mothra na cascata, quando “as estrelas descem do céu” para lhe darem vida; a
batalha final entre os quatro grandes monstros; o triunfo cristológico de
Godzilla sobre a morte (em algum momento, um personagem diz: “ele morreu para
nossa salvação”). Tudo isto não apagará os vexames contidos na produção, mas
faz valer a curiosidade pela sessão.
E, assim, que venham outros filmes. É sempre bom ver
estes grandes personagens de volta. Afinal, é como dizem: vida longa ao rei!
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