terça-feira, 21 de agosto de 2018

A Morte Caminha no 322, por Claude Chabrol


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Pushover


Pushover, de Richard Quine, oferece uma intriga a priori totalmente desinteressante. O grande mérito do diretor foi o de considerá-la a priori como tal, de escamoteá-la na medida do possível e de não se prender senão a dois ou três personagens interessantes que estão imbricados nela. Num abrandamento da ação, necessário a seu propósito, correspondente à criação de uma atmosfera bastante particular e extremamente interessante, e sobretudo num engrandecimento dos personagens: um homem, uma mulher e um velho policial, coisa que não encontramos quase nunca nas produções deste gênero. Isto nos faz pensar um pouco em Nicholas Ray e um pouco em Mark Dixon, de Preminger (do qual ele utiliza, num momento, a técnica do travelling-grua); e a isto tudo se ajunta uma espécie de lirismo bastante pessoal.

Richard Quine é um velho ator e, apesar disso, muito bom diretor de comédias. Mas, paradoxalmente, é menos na atuação e mais na silhueta no que ele se interessa, menos no personagem e mais no próprio ator cujo segredo ele pretende perscrutar.


(Claude Chabrol; trecho selecionado do artigo Petits Poissons Deviendront Grands, Cahiers du Cinéma, n. 45, março de 1955, p. 45; tradução: Yuri Ramos)

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