Pushover
Pushover,
de Richard Quine, oferece uma intriga a priori totalmente desinteressante. O
grande mérito do diretor foi o de considerá-la a priori como tal, de
escamoteá-la na medida do possível e de não se prender senão a dois ou três
personagens interessantes que estão imbricados nela. Num abrandamento da ação,
necessário a seu propósito, correspondente à criação de uma atmosfera bastante
particular e extremamente interessante, e sobretudo num engrandecimento dos
personagens: um homem, uma mulher e um velho policial, coisa que não
encontramos quase nunca nas produções deste gênero. Isto nos faz pensar um
pouco em Nicholas Ray e um pouco em Mark Dixon, de Preminger (do qual ele
utiliza, num momento, a técnica do travelling-grua); e a isto tudo se ajunta
uma espécie de lirismo bastante pessoal.
Richard
Quine é um velho ator e, apesar disso, muito bom diretor de comédias. Mas,
paradoxalmente, é menos na atuação e mais na silhueta no que ele se interessa,
menos no personagem e mais no próprio ator cujo segredo ele pretende
perscrutar.
(Claude
Chabrol; trecho selecionado do artigo Petits
Poissons Deviendront Grands, Cahiers du Cinéma, n. 45, março de 1955, p.
45; tradução: Yuri Ramos)
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