Em
Operation Petticoat, Cary Grant,
salvo erro, afirma, peremptoriamente: Por volta dos 16 anos uma moça é
protegida pela lei e por volta dos 60 pela natureza. O tom da obra de Blake
Edwards está dado. Este grande amante das belas moças (ele contribuirá com o
lançamento de Bo Derek em Ten) e de
Laurel and Hardy (aos quais dedica The
Great Race) estranho em Hollywood como ator (Ten Gentlemen from West Point) e depois como roteirista de Richard
Quine (All Ashore, Drive on a Crooked
Road,My Sister Eileen e Operation Mad
Ball). Continuando a escrever roteiros para Quine (The Notorious Landlady), Nelson (Soldier in the Rain) e Yorkin (Inspector
Clouseau), sem esquecer de uma importante atividade no rádio na televisão,
ele começa a dirigir filmes em 1955. Se sucedem a isso uma admirável comédia
satírica sobre o arrivismo (Mister Cory),
bons thrillers (Experiment in Terror),
dramas sociais (Days of Wine and Roses,
sobre o alcoolismo; The Carey Treatment
sobre o aborto), agradáveis comédias sofisticadas com Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo) o com sua esposa,
Julie Andrews (Darling Lili), um
sólido faroeste (Wild Rovers).
Edwards faz mesmo um remake (ruim) de L'Homme
qui Amait les Femmes, de François Truffaut. Mas o gênero onde Edwards se
revela como um verdadeiro gênio é o burlesco. Ele conseguiu reconstruir com
personagens de carne o universo delirante do desenho animado. The Great Race, que põe como oponentes
numa competição automobilística Tony Curtis e Jack Lemmon nos lembrando de toda
mímica do Frajola, é o mais extravagante filme já feito, indo das batalhas de
tortas a paródias do Prisioneiro de Zenda, não deixando por um minuto o
espectador reaver seu fôlego até as imagens finais que nos mostram o
desmoronamento da Torre Eiffel. Então com a Pantera Cor de Rosa que ele se
torna celebridade. Esta história de diamante roubado tinha por protagonista
David Niven; mas na verdade o público não parou de olhar para o investigador
encarregado do caso em questão, o Inspetor Clouseau, vivido pelo genial Peter
Sellers. Cretino teimoso, tendo tanto talento como um cabo de vassoura, incapaz
de tocar um objeto sem quebrá-lo, Clouseau causa, onde quer que passe piores, catástrofes:
devastações de apartamentos e cataclismos domésticos se sucedem num ritmo
rápido, mas ele sempre aparece mais ou menos ileso para semear a perturbação em
outro lugar. Essa mistura de Stan Laurel e Dupont e Dupond elevava o erro e a
falta de jeito ao status uma nova arte. A saga da pantera, iniciada pelo tema
de Henry Mancini, interpretado por Plas John, que precedia os deliciosos e
geniais créditos iniciais animados por Freleng, conheceu vários episódios,
todos irresistíveis. A morte de Sellers interrompeu - infelizmente - uma série
da qual o público nunca se cansou. Havia uma variante não menos genial: The Party. Ator hindu: Sellers sabota um
filme por sua total incompetência e, convidado por engano a uma festa cujo
anfitrião é o produtor do filme, acaba por arruiná-la, destruindo sua suntuosa
mansão. Com Peter Sellers, Blake Edwards, que redescobriu as velhas receitas da
era de ouro do burlesco, fez uma pausa: The
Men who Loved Women não foi além de um meticuloso remake do filme de
Truffaut. Outro remake: Micki and Maude.
Depois retorna às fontes do burlesco com A
Fine Mess. That's Life (sobre uma
mulher que espera pelos resultados de um exame de câncer) é comovente e Sunset (que reúne Tom Mix e Earp),
veloz. Apesar de seu sucesso comercial, Skin
Deep reflete o desgaste da verve cômica de Edwards.
(Jean
Tulard, em Dictionnaire du Cinéma –
Les Réalisateurs – 1895 – 1995; Paris: Éditions Robert Laffont, S.A.; 1995; p.
274-275; tradução: Yuri Ramos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário