terça-feira, 21 de agosto de 2018

Blake Edwards, por Jean Tulard




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Em Operation Petticoat, Cary Grant, salvo erro, afirma, peremptoriamente: Por volta dos 16 anos uma moça é protegida pela lei e por volta dos 60 pela natureza. O tom da obra de Blake Edwards está dado. Este grande amante das belas moças (ele contribuirá com o lançamento de Bo Derek em Ten) e de Laurel and Hardy (aos quais dedica The Great Race) estranho em Hollywood como ator (Ten Gentlemen from West Point) e depois como roteirista de Richard Quine (All Ashore, Drive on a Crooked Road,My Sister Eileen e Operation Mad Ball). Continuando a escrever roteiros para Quine (The Notorious Landlady), Nelson (Soldier in the Rain) e Yorkin (Inspector Clouseau), sem esquecer de uma importante atividade no rádio na televisão, ele começa a dirigir filmes em 1955. Se sucedem a isso uma admirável comédia satírica sobre o arrivismo (Mister Cory), bons thrillers (Experiment in Terror), dramas sociais (Days of Wine and Roses, sobre o alcoolismo; The Carey Treatment sobre o aborto), agradáveis comédias sofisticadas com Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo) o com sua esposa, Julie Andrews (Darling Lili), um sólido faroeste (Wild Rovers). Edwards faz mesmo um remake (ruim) de L'Homme qui Amait les Femmes, de François Truffaut. Mas o gênero onde Edwards se revela como um verdadeiro gênio é o burlesco. Ele conseguiu reconstruir com personagens de carne o universo delirante do desenho animado. The Great Race, que põe como oponentes numa competição automobilística Tony Curtis e Jack Lemmon nos lembrando de toda mímica do Frajola, é o mais extravagante filme já feito, indo das batalhas de tortas a paródias do Prisioneiro de Zenda, não deixando por um minuto o espectador reaver seu fôlego até as imagens finais que nos mostram o desmoronamento da Torre Eiffel. Então com a Pantera Cor de Rosa que ele se torna celebridade. Esta história de diamante roubado tinha por protagonista David Niven; mas na verdade o público não parou de olhar para o investigador encarregado do caso em questão, o Inspetor Clouseau, vivido pelo genial Peter Sellers. Cretino teimoso, tendo tanto talento como um cabo de vassoura, incapaz de tocar um objeto sem quebrá-lo, Clouseau causa, onde quer que passe piores, catástrofes: devastações de apartamentos e cataclismos domésticos se sucedem num ritmo rápido, mas ele sempre aparece mais ou menos ileso para semear a perturbação em outro lugar. Essa mistura de Stan Laurel e Dupont e Dupond elevava o erro e a falta de jeito ao status uma nova arte. A saga da pantera, iniciada pelo tema de Henry Mancini, interpretado por Plas John, que precedia os deliciosos e geniais créditos iniciais animados por Freleng, conheceu vários episódios, todos irresistíveis. A morte de Sellers interrompeu - infelizmente - uma série da qual o público nunca se cansou. Havia uma variante não menos genial: The Party. Ator hindu: Sellers sabota um filme por sua total incompetência e, convidado por engano a uma festa cujo anfitrião é o produtor do filme, acaba por arruiná-la, destruindo sua suntuosa mansão. Com Peter Sellers, Blake Edwards, que redescobriu as velhas receitas da era de ouro do burlesco, fez uma pausa: The Men who Loved Women não foi além de um meticuloso remake do filme de Truffaut. Outro remake: Micki and Maude. Depois retorna às fontes do burlesco com A Fine Mess. That's Life (sobre uma mulher que espera pelos resultados de um exame de câncer) é comovente e Sunset (que reúne Tom Mix e Earp), veloz. Apesar de seu sucesso comercial, Skin Deep reflete o desgaste da verve cômica de Edwards.


(Jean Tulard, em Dictionnaire du Cinéma – Les Réalisateurs – 1895 – 1995; Paris: Éditions Robert Laffont, S.A.; 1995; p. 274-275; tradução: Yuri Ramos)

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