sábado, 23 de fevereiro de 2019

Mauritz Stiller, por Georges Sadoul e Jean Tulard



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Ele igualou seu conterrâneo, Sjöström, no tocante à direção, apesar de ter um tom bem diferente, com grandes sagas nacionais, muitas das quais adaptadas de Selma Langerlöf: O Tesouro do Senhor Arne, A Saga de Gösta Berling e A Nevasca. Foi particularmente grande quando inspirado pelos romances escandinavos, onde, assim como heróis bem típicos e individualizados – de sentimentos bastante sutis -, os cenários foram personagens do drama. O navio preso no gelo e a fortaleza onde estão cativos os prisioneiros de O Tesouro do Senhor Arne; o grupo de renas na neve e a paisagem de onde chega a Dama do pesadelo assombrado de A Nevasca; a atmosfera dos anos 1820 em Gösta Berling, tudo isto lhe põe na linha de frente dos maiores cineastas.

A despeito disto, ele foi, com um nervosismo elegante, um mestre da comédia ligeira, principalmente em Erotikon, brilhante quadrilha mundana advinda do teatro “boulevardier” da Europa Central, assim como foram os sucessos americanos de C.B. DeMille e Douglas Fairbanks. 

Seu sucesso chamou a atenção de Hollywood, que o chamou para lá. Porém, a capital do cinema americano não lhe trouxe bons frutos e, apesar de ter levado Garbo até lá, nunca pôde filmar qualquer um de seus filmes, retornando, bastante doente, para morrer na Suécia.

Foi tão delicado quanto Sjöström foi massivo. E, a propósito disto, disse Delluc: “Ele lida com o branco e com o negro com a atenção sutil de um trovador. É, para a arte do cinema mudo, o que foram Charles D’Orléans e Louise Collet para a arte da rima. E, por instantes, parecemos imaginar que arpeja luzes docemente sonoras, sobre não sei que cordas cantantes”.

(Georges Sadoul, em Dictionnaire des Cinéastes. Tradução: Yuri Ramos)


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Com Sjöström, é outro grande pioneiro do cinema escandinavo. Filho de um músico de origem judaica, ele se opõe a Sjöström por sua saúde delicada, suas depressões abruptas e uma arte mais atormentada. Seus primeiros filmes foram melodramas sombrios (em O Vampiro, um jovem oficial se vinga de uma atriz que destruiu sua carreira, largando em cima dela a cortina de ferro de um teatro), filmes policiais (o bando dos "máscaras negras"), vaudevilles (Amor e Jornalismo) que teriam influenciado Lubitsch. Seu primeiro grande sucesso é uma comédia encantadora: Erotikon. Mas é filmando suas sagas que ele realmente se impõe: O Tesouro do Senhor Arne, baseado em Lagerlöf, com imagens suntuosas do enterro final da heroína, numa longa procissão, influenciará o Ivan, o Terrível, de Eisenstein. Além deste, A Nevasca, ainda em adaptação a Lagerlöf, e, especialmente, Gösta Berling, que revela Greta Garbo.

Lendas sobre sua peculiaridade rondam a figura de Stiller: não mudava de roupa durante as rodagens de um filme por medo de mudar, assim, também, a homogeneidade da obra. Suas roupas eram excêntricas e seu comportamento era muitas vezes estranho. 

Depois de Gösta Berling, onde pôde "reviver a atmosfera dos círculos aristocráticos e extravagantes as Suécia em seu áureo período do século XIX" (John Béranger), a MGM ofereceu-lhe uma oportunidade de ouro para trabalhar em Hollywood. Ele aceita, mas apenas se Greta Garbo também estiver envolvida. Eles chegam aos Estados Unidos em julho de 1925. Mas Stiller se dá mal com Irving Thalberg, a eminência parda da MGM.

Ele será reduzido a um mero espectador, enquanto sua criatura se torna uma das maiores estrelas do cinema. Acometido de depressões incessantes, Stiller só pôde dirigir, depois disto, dois filmes: Hotel Imperial e Confissão. Ele adoece e tem que retornar a Estocolmo, quando conta cerca de quarenta e cinco anos de idade. Só mais tarde Garbo poderá se reunir novamente com ele, em seu túmulo, no cemitério judeu. Ela lhe devia sua carreira.

(Jean Tulard, em Dictionnaire du Cinéma  - Les Réalisateurs, 1895-1995. Tradução: Yuri Ramos)

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