quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Polêmicas em torno de “A Intrusa”



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Para além das dificuldades técnicas enfrentadas na produção, Christensen enfrentou as mais diversas polêmicas e censuras de todos os lados em relação a seu filme.
A começar, a exibição foi completamente vetada na Argentina, onde só veio a estrear anos depois, com grande receptividade da crítica (um pouco ao contrário do que houve no Brasil, onde muitas opiniões se registraram reativas ou mornas).
A “querela Borges”, que envolvia a relutância do autor do conto original em ceder seus direitos para a adaptação cinematográfica (com medo de que se convertesse em história pornográfica), acabou durando anos, primeiro com o autor vangloriando o filme e, mais tarde, em 1984, o rechaçando e dizendo que se tratava de “infâmia” contra sua história. Curioso, neste ponto, é ressaltar que Borges era praticamente cego e que, a rigor, nunca vira o filme, nem numa vez, nem em outra. Ouvira, somente. Na primeira audição, até se emocionou. Na segunda, odiou.
Para além disto, sobram ainda intrigas sobre o enredo do filme, taxado por muitos (e, em algum momento, pelo próprio autor do conto originário) como história de homossexuais, no que Christensen se defendia arvorando a citação que Borges faz, em seu escrito, à amizade de David e Jonathan, no Segundo Livro dos Reis, de que “certas amizades são mais fortes que o amor das mulheres”.
Vejamos os depoimentos colhidos em jornais da época que dão conta de testemunhar todas essas problemáticas.

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Christensen lembra citação bíblica de Borges
Correio do Povo, 18 de junho de 1980


Quando se ouve os depoimentos da atriz Maria Zilda sobre sua personagem em A Intrusa, a tendência é dar-lhe toda a razão. Tudo muda de figura a partir do momento em que o diretor do filme, Carlos Hugo Christensen, mostra que o conto de Borges é precedido por um texto bíblico que Borges recomenda ao leitor e que aparece transcrito nas cenas iniciais do filme. Trata-se do Versículo 26 do capítulo I do Segundo Livro dos Reis da Bíblia Católica onde Davi diz: " me aflijo por ti, Jonathan, irmão meu; carinhoso e encantador foste comigo: teu amor por mim foi maravilhoso, superior ao de qualquer mulher ". Para  Christensen, essa citação adianta ao leitor de Borges e ao seu espectador que o afeto entre os dois irmãos não precisa ser, necessariamente, considerado como homossexualidade.

O diretor de A Intrusa diz que tudo pode se tratar somente de uma amizade profunda, considerando que "a amizade é tão misteriosa quanto o amor". Ele adianta quê o conto foi lido por grande parte da população de Uruguaiana, das quais 40 pessoas estiveram em Gramado para ver o filme. "Aceitaram sem problemas o conto, onde a mulher aparece como esta 'coisa' que só serve para cama e cozinha e nada mais. A situação da mulher no fim do século passado aparece com características selvagens, mas ainda existe, embora de forma diferente. Em zonas como Uruguaiana, o peão raramente se casa e mantém-se um solitário até hoje". Uma expressão significativa de A Intrusa reforça isso: " gaúcho que pensa em uma só mulher por mais de 5 minutos é maricão ".

Christensen afirma que, com a adoração que tem pelo que Borges escreve, "jamais permitiria a deturpação do conto dele". Além disso, como diretor ele não discute com os atores, deixa claro que o filme é seu e deixa ao intérprete a possibilidade de aceitar ou recusar apenas.

O direito de Christensen filmar o conto de Borges foi obtido junto ao próprio autor, significando sua vitória sobre cinco concorrentes estrangeiros que também queriam filmar A Intrusa: "Borges temia que transformassem seu conto em pornografia e preferiu um cineasta latino-americano". De resto, considera que seu filme, feito sem moralismos, "é de uma violência moral maior que Os Sete Gatinhos".


Borges critica a adaptação de conto seu para a tela

O escritor argentino Jorge Luis Borges criticou duramente a versão cinematográfica de seu conto "A Intrusa", realizada no Brasil em 1981, por seu compatriota, Carlos Hugo Christensen, a quem acusou de dar um sentido comercial à obra. Borges qualificou o filme de "infâmia", pois o diretor transformou a história numa relação homossexual, escamoetando o sentido do conto. "A Intrusa" conta a história de dois irmão que viviam no Rio Grande do Sul por volta de 1890. Cristián, o mais velho, traz uma mulher ao rancho que ambos partilham, enquanto Eduardo faz o mesmo. A mulher trazida por este, entretanto, permanece ali apenas um dia, pois logo percebe que deseja a de Cristián. Os dois irmãos dividem então a primeira mulher, vendendo-a depois a um bordel. A história termina com um duelo entre Cristián e Eduardo.

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